Olá, pessoal do Xe mba'e!
a seguir uma indicação de filme cult, para quem desejar desopilar um pouco a mente e curtir uma produção mais crítica sobre o papel do cinema no debate de temas relevantes para a sociedade.
espero que gostem!
a seguir uma indicação de filme cult, para quem desejar desopilar um pouco a mente e curtir uma produção mais crítica sobre o papel do cinema no debate de temas relevantes para a sociedade.
espero que gostem!
“A Maçã”
A Maçã, filme de Samira Makhmalbaf, enfoca no seu enredo fictício-real uma das dimensões, do ser humano, que mais está sendo posto em debate neste momento da trajetória da humanidade: a educação.
Samira Makhmalbaf rodou o filme aos 19 anos, além da juventude colocada em xeque e considerando o filme como uma produção de baixa renda, como na maioria dos filmes iranianos, sua produção atinge, como veículo de comunicação, um tom relevante devido a carga contida nas entrelinhas de seu enredo. Este enredo fictício-real narra a história de duas meninas que permanecem presas por 11 anos até que a vizinhança resolve mobilizar a autoridade tutelar da criança para tomar alguma providencia em prol das crianças. Estas são criadas por uma mãe cega e por um pai com a idade já avançada. Assim, depois do abaixo-assinado dos vizinhos a autoridade resolve designar uma assistente social para acompanhar o processo de sociabilidade e de liberdade das meninas.
A partir daqui o filme traça uma rede de relações que revela aspectos de uma cultura de preconceitos, fanatismo religioso e, sutilmente, a de jogo de poder entre a força da tradição (citado muitas vezes através da fala do pai pelos provérbios) e Estado (decisão tomada pelo mesmo no momento em que designa a assistente social).
A compreensão que poderia extrair em primeiro plano, ou momento, é a de que as forças das circunstâncias (a pobreza e a mãe cega) obrigam o pai a trancá-las, e no segundo momento, alega também à sabedoria dos antigos: “as meninas são como pétalas de flor que se desmancham em contato com o Sol”. Na verdade não há uma ação direta do pai, como de nenhum outro homem, exceto de algumas crianças, mas da própria mãe cega, concentra o poder em si pela sua cegueira. Ela sempre encapuzada poderia ser, como outra forma de análise, o velho modelo do sistema enquanto que a assistente social vem resgatar uma nova dimensão, uma dimensão libertadora, um novo paradigma da educação, socialização e liberdade.
O enredo da A Maçã toma força e dinâmica pela imagem. Imagens que expressa, não apenas uma prisão social, mas, a força e o anseio das crianças em participar da realidade que as circunda e de interagir com ela.
O brincar, correr, pular com outras crianças mostra se como processo de socialização. É a descoberta do mundo exterior. Mundo minimizado pelo pai e pela mãe. Mundo aberto pela maçã. Aliás, a maçã surge como porta para este mundo. O poder simbólico desta fruta não é dado em seu sentido, comumente empregado, de algo ruim, como queda [1], mas algo que possibilita o novo. É fascinante a cena das crianças correndo com seus passos sôfregos, atravessando limites e barreiras, para a liberdade. Tudo isso possibilitado pela maçã.
São muitas as aberturas de reflexão possibilitada pelo filme de Samira Makhmalbaf. Um outro dado observado em A Maçã é o papel da mulher. Estas opinam, discutem e remediam a condição das meninas, sem ser um filme feminista, pois o foco é a educação como socialização no âmbito da liberdade. Elas têm um papel fundamental, pois enriquecem a reflexão no enredo com suas variadas óticas.
Destarte, em primeira instância o filme é desconcertante, pois parece um documentário, mas é, na verdade, um registro real, de vidas reais. Este fato de oscilar entre o real e o fictício confunde o observador a tal ponto que não se pode distinguir o que é real e o que não é. É por isso que a forte vergonha que cai sobre o pai das garotas, Ghorban, também impressiona.
"durante 65 anos, ninguém nunca prestou atenção em mim,
agora, eu estou nos jornais e a minha desonra é enorme".
Dentro da sua própria realidade, ou seja, no contexto onde o filme está inserido, A Maçã, abarcar outra dimensão reflexiva, quando visto por nós, ocidentais, pois não possuímos a estrutura cultural de uma realidade onde as mulheres são colocadas sob e não com o sistema. Pensar a educação neste contexto é pensar com Samira Makhmalbaf na possibilidade de sair da prisão e caminhar pelas veredas da vizinhança, da praça e do mundo.
[1] Nota-se este sentido de queda na tradição judaico-cristã, i.é, fruto não identificado, mas que possui os princípios de rompimento do estado de graça e comunhão com Deus.
Dados do filme:
Titulo: A Maçã
Diretora: Samira Makhmalbaf.
Ano: 1996
Origem: Irã/França
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