Pular para o conteúdo principal

Gûatá Ypy: Curso de Tupi Antigo / 03

Guatá-ypy
(Primeiros Passos)

Lição V

Anauê! Xe iru gûé!
Praticaram as aulas anteriores? Espero que sim! Depois de um tempinho sem postagem na nossa Aula de Tupi Gûatá-ypy voltaremos trabalhar os verbos. Já vimos a conjugação da primeira forma Xe, nde, a’e, ore, etc. Vamos agora tratar dos verbos precisamente dito.

Em tupi antigo o tempo não é expresso. Por exemplo, xe a-só, traduziríamos: eu vou, eu fui.

Então podemos dizer então que os verbos não se flexionam como em português. Os primeiros estudantes do tupi, como o padre Anchieta, passaram a usar determinadas partículas adverbiais que juntando ao nosso tempo “indicativo” assim davam a idéia de tempo aos verbos.
Para conjugar os verbos utilizaremos prefixo aos verbos correspondente as pessoas:
Eu = a- Nós = oro- Eles, elas = o-
Tu = ere- Nós = ia-
Ele, ela = o- Vós = pe-

Basta juntar essas partículas ao verbo. A forma verbal é igual para todas as pessoas, isto é, ele não se altera, isso é legal! É legal porque não precisamos lembrar de tantas formas como na língua portuguesa. Vamos ver o exemplo.
a-só ----------------------- vou, fui/ xe a-só = eu vou, eu fui (xe/eu)
ere-so---------------------- vais, fostes/ndé ere-só = tu vais, tu fostes (ndé/tu)
o-só------------------------ vai, foi/a’e o-só= ele, ela vai, ele foi (a’e/ele,ela)
oro-so--------------------- vamos, fomos/oré oro-so= nós vamos, nós fomos (oré/nós)
îa-só----------------------- vamos, fomos/îandé ia-só = nós vamos, nós fomos (îandé/nós)
pe-só---------------------- ides, fostes/ peë pe-só = vós ides, vós fostes (peë/vós)
o-só----------------------- vão, foram/a’e o-so = eles, elas vão, eles foram (a’e/ele,ela)

Vocês notaram que a’e serve tanto pro singular como para o plural?
No português a reflexão recai no verbo VOU, VAIS, VAI a flexão é no final do verbo, no tupi antigo o prefixo adicionado na frente do verbo que faz a conjugação a-so, era-só, o-só. Literalmente seria algo próximo a eu ir, tu ir, ele ir. Legal né, assim facilita a gente a aprender!!!
Na próxima aula utilizaremos as partículas adverbiais para dar idéias de tempo. Por enquanto vamos praticar nesta forma.
Pratiquem com estes verbos:
Karu = comer, se alimentar.
Gûatá = andar, caminhar
Bebé = voar
Nhe’eng = falar
Só = ir
Pererek (saltar, ir aos pulos)

Da até para construir frases com nosso vocabulariozinho, vocês ainda lembra? Para os preguiçosos que não querem procurar entres as postagens aqui estão alguns dos vocábulos :
Paka (paca, animal paca)
Îagûara (onça)
Kururu (sapo)
Pitangi (criança)
Kunumi (menino)
Kunhã (mulher)
Abá (homem, índio, pessoa)
Gûyrá (pássaro)
Tukura (gafanhoto)

Vou dar um exemplo:
Tukura o-pererek (o gafanhoto pulou)
Vocês podem utilizar o vocábulo e o que aprenderam na III lição e melhorar as frases, tipo
Tukur-oby o-pererek (o gafanhoto verde pulou)
Tukur-usu o-pererek (o gafanhoto grande pulou)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A diferença entre “não posso” e “não quero”.

A diferença entre “não posso” e “não quero”. Gostaria de partilhar aqui uma reflexão filosófica apoiada na linguagem que, em primeiro momento, parece uma bobagem, mas que pode revelar muito da dimensão inconsciente (se de médico e de louco todo mundo tem um pouco, de psicólogo então, nem se fala!) do ser humano na esfera da inter-relação com o outro: a diferença substancial entre o não posso e o não quero . Esta reflexão nasceu de uma curiosidade sobre o uso da linguagem durante as leituras de Habermas, Austin, Lyons e outros lingüistas e filósofos da linguagem. A princípio, ambas as respostas para uma dada circunstância parece ecoar definitivamente como a não possibilidade da realização do fato em questão. Ora, se durante uma visita a um amigo, por exemplo, me convidasse para tomar uma xícara de café e eu respondesse “não posso, obrigado!” ou “não quero, obrigado!”, ambas as respostas, marcaria a negação do ato convidativo a ser realizado. Ou em outro contexto, se minha mãe c

ESTÉTICA E CORPORALIDADE ENTRE OS YANOMAMI

ESTÉTICA E CORPORALIDADE ENTRE OS YANOMAMI DO RIO MARAUIÁ Sabem por que eu adoro antropologia? Porque não é apenas uma ciência, mas, simplesmente porque ela abre a cortina para um mundo totalmente diferente e nós, antropólogos, imbuído nestes mundos como peregrinos, nunca seremos totalmente o outro que está ali a nossa frente e, o pior, nunca voltaremos a sermos o que éramos antes da imersão.  Lembro que tinha uma anseio tão grande em aprender a língua yanomami que nos primeiros meses de campo cheguei a sonhar, literalmente, em yanomami. Acreditava, e acredito criticamente, na utopia malinowkiana da imersão na cultura do outro e foi o que tentei fazer através da língua (também cantei, dancei e participei dos rituais mais profundos[1] que uma pessoa “estranha” poderia participar). A cultura do povo Yanomami é singular, como são singulares as mais diversas culturas entre si. Porém, há tantos elementos sui generi que sempre que volto a convivência com os yanomami me espanto co

POROMONGUETÁ: A LÍNGUA DOS TREMEMBÉ.

POROMONGUETÁ: A LÍNGUA DOS TREMEMBÉ. olha ai a gente de novo! Prontos para mais uma leitura? Até agora postei sobre vários assuntos, mas ainda não abordei aspecto da cultura do meu próprio povo, do Povo Tremembé. Entre os vários elementos que poderia abordar, de forma mais peculiar, da parte cultural e estrutura social, eu irei me ater ao que toca a dimensão lingüística. Gostaria de partilhar junto com esta postagem um sentimento particular. Acredito que eu seja o primeiro a falar do Poromonguetá. Embora eu seja antropólogo, tive uma boa formação na área da lingüística devido a convivência e as partilhas com meu orientador do mestrado Frantomé B. Pacheco que é um excelente lingüístico. Por possuir, hoje, um conhecimento lingüístico suficiente para organizar nossa língua e apresentá-la de forma mais geral. Até então, ainda esses dados permaneciam na obscuridade, pois, de alguma forma, eu tinha um pouco de receio de comentar sobre eles. Ora, nós indígenas do nordeste, já somos, dev