Mbo’esara Esãîã
Tremembé
Antropólogo
O
presente artigo trata da trajetória do Poromonguetá, outrora falado pelo povo
Tremembé, que por razões históricas, políticas e culturais foram substituído
pela língua dominante, a língua portuguesa. Para isso, far-se-á o percurso
feito por antropólogos, linguistas e principalmente, historiadores, dos quais,
procuraremos compreender a situação monolíngue atual dos Tremembé da costa do
Ceará.
Palavras-chave:
Poromonguetá; História; Tremembé; linguística.
Ceará 1629 |
CONTEXTO HISTÓRICO
Quando nos remetemos a trajetória histórica dos povos indígenas nos deparamos com um quadro bastante trágico que nos remetem as atrocidades de vários níveis, de genocídio ao etnocídios, de escravidão a massacres, guerras, transmissões de doenças, dentre tantos males que assolaram as populações indígenas durante este período da história. Estimativas apontam que durante o período pré-cabraliano existiam no Brasil cerca de 3 a 5 milhões de indígenas, número assustadoramente impactante quando comparado com os 0,4% encontrados hoje na sociedade brasileira, segundo apontamentos realizados pelo IBGE (2001).
Dentro do percurso, podemos apontar categoricamente, que as embarcações portuguesas chegaram ao Brasil por volta de 1500 e, somente após trinta anos, por volta de 1530 é que teve de fato início a colonização territorial da costa brasileiro. Transcorridos 19 anos é que se iniciou o processo de catequização que ficou a encargos dos jesuítas que chegaram em 1594. Com objetivos bastantes definidos, a saber, a expansão da fé católica, abririam margens sólidas para o fortalecimento da coroa portuguesas em terras de “bárbaros e gentis”. A colonização teve impasses de grupos indígenas aliados, por exemplo, a outras coroas como a holandesa e espanhola. Essa aliança e a resistência a catequese fizeram que alguns grupos indígenas ficassem fora da ação catequética dos jesuítas e outras congregações religiosas posteriormente, (carmelitas e franciscanos, por exemplo) o que contribuiu para a não documentação linguística (a maior parte da literatura das línguas brasílicas são de cunho religioso) ficando a mercê de contextos citacional, como Mamiani, citando os teremembés em 1694 em sua introdução ao Catecismo na Língua Kiriri.
A expansão dos dialetos Tupi, adotado pelos redutos missionários como língua de comunicação e evangelização, contribuiu para a homogeneização da língua falada na costa brasileira. Assim, os grupos minoritários, já que os falantes dialetais do tupi estavam praticamente em toda costa brasileira, passaram a ser considerados alvos de rechaças, bem como mostras Seky a preferência pela língua costeira,
Quando nos remetemos a trajetória histórica dos povos indígenas nos deparamos com um quadro bastante trágico que nos remetem as atrocidades de vários níveis, de genocídio ao etnocídios, de escravidão a massacres, guerras, transmissões de doenças, dentre tantos males que assolaram as populações indígenas durante este período da história. Estimativas apontam que durante o período pré-cabraliano existiam no Brasil cerca de 3 a 5 milhões de indígenas, número assustadoramente impactante quando comparado com os 0,4% encontrados hoje na sociedade brasileira, segundo apontamentos realizados pelo IBGE (2001).
Dentro do percurso, podemos apontar categoricamente, que as embarcações portuguesas chegaram ao Brasil por volta de 1500 e, somente após trinta anos, por volta de 1530 é que teve de fato início a colonização territorial da costa brasileiro. Transcorridos 19 anos é que se iniciou o processo de catequização que ficou a encargos dos jesuítas que chegaram em 1594. Com objetivos bastantes definidos, a saber, a expansão da fé católica, abririam margens sólidas para o fortalecimento da coroa portuguesas em terras de “bárbaros e gentis”. A colonização teve impasses de grupos indígenas aliados, por exemplo, a outras coroas como a holandesa e espanhola. Essa aliança e a resistência a catequese fizeram que alguns grupos indígenas ficassem fora da ação catequética dos jesuítas e outras congregações religiosas posteriormente, (carmelitas e franciscanos, por exemplo) o que contribuiu para a não documentação linguística (a maior parte da literatura das línguas brasílicas são de cunho religioso) ficando a mercê de contextos citacional, como Mamiani, citando os teremembés em 1694 em sua introdução ao Catecismo na Língua Kiriri.
A expansão dos dialetos Tupi, adotado pelos redutos missionários como língua de comunicação e evangelização, contribuiu para a homogeneização da língua falada na costa brasileira. Assim, os grupos minoritários, já que os falantes dialetais do tupi estavam praticamente em toda costa brasileira, passaram a ser considerados alvos de rechaças, bem como mostras Seky a preferência pela língua costeira,
As demais línguas, faladas por povos
genericamente considerados como constituindo o grupo “tapúya” (tupi: ‘bárbaro,
inimigo’), eram denominadas de “travadas”, de difícil entendimento, em contraste
com o tupi jesuítico, o “nheengatu” (tupi: nhe’eng ‘língua’ + katu
‘bom’) a “língua boa’. Este último desenvolveu- se como ‘língua geral’ da
colônia e ainda hoje sobrevive na região do Rio Negro. (SEKY, p253)
Entre os diversos grupos indígenas que puseram residência
a coroa portuguesa encontramos o grupo étnico dos Tremembé. Primeiramente, a terra ao norte costeiro
(nordeste) brasileiro era inapropriada a produção e ao cultivo, diferentemente,
da capitania de Pernambuco que prosperava com o cultivo da cana de açúcar, e
com a resistência a ação dos missionários, os Tremembé foram ficando cada vez
mais arredios e colocados de lado da politica administrativa da coroa
portuguesa. O que aconteceu aos Tremembé pode ser entendido nas palavras de Barros:
Esta política de institucionalização de uma
língua indígena como geral foi parte de uma política indigenista colonial que
estabeleceu uma categoria de “índio”, que não existia no mundo pré-colonial.
Índio era uma categoria superétnica, reduzidas as diferenças dos grupos a um
modelo único aplicado a toda a população indígena. A categoria índio marcava a
oposição entre o colonizador e o colonizado. Mantinha a alteridade cultural em
relação ao colonizador, porém sem recuperar o étnico, ou seja, as
especificidades próprias de cada grupo como unidade político-econômica”.
(BARROS et al, 1996, p. 195-6)
Foi praticamente neste período que
os Tremembé fizeram uma aproximação da “Língua
Boa” levado pelos viajantes que
apontavam nesta região costeira do país. No livro Camocim Centenário 1879-1979,
onde se narra a história de Camocim/CE, o historiador Tobis de Melo Monteiro,
aponta uma aproximação holandesa passiva com a população indígena (Tremembé)
dessa região. Ai se realizou não somente uma troca material de objetos, mas
também gerou alianças bélicas e matrimoniais. Holandeses e espanhóis já tinham
conhecimento das línguas indígenas da costa brasileira levadas pelos
missionários, como atenta os exemplares na bibliografia
española de Lenguas indígenas de América do Conde de La Viñaza (1892) em
Madri, não só conhecia como também tinha fluências devido o contato e o esforço
jesuítico de propagar a língua mais falada na costa brasileira como bem apontou
Pe. Anchieta. Em síntese, a Língua Geral passou a ser a única língua de contato
entre eles e os indígenas costeiros, mesmo não sendo falantes do tronco tupi,
como era o caso dos Tremembé que habitavam a região anterior aos tupinambás ou
qualquer outro grupo tupi,
Antes da chegada dos colonizadores, os
Tremembé ocupavam todo o litoral, desde o Rio Grande do Norte até o Maranhão.
Há, pelo menos, 11 mil anos, diferentes povos viviam nessas terras, seguindo
seus costumes e tradições. (COMIN, 2004)
Os contatos intermitentes com os espanhóis
e holandeses e as alianças forjadas com eles, abriu-se uma frente de embate com
a coroa portuguesas, aliadas dos falantes do tronco tupi. Neste período já era
possível verificar entendimento dos Tremembé de uma vertente da língua tupi
falada na região do Maranhão, onde se encontrava parte mais densa do povo
Tremembé. No intuito de reduzir o território habitado pelos Tremembé, agora
falantes de uma vertente do tupi (poromonguetá)
e com uma população mestiça aumentando na região maranhense, começaram os
embates. A coroa portuguesa receosa de perder território para os holandês (que
já dominava parte das capitanias do Nordeste liderado então por Jacob Rabbi e
Roulox Baro) decidiu utilizar uma tática, oferecer sesmarias para acelerar o desterritoriamento
da região, já que não tinha contingente militar suficiente no Brasil para o
empreito, assim,
A partir de 1679, os conflitos aumentaram,
pois a coroa portuguesa doou lotes de terra (sesmarias) a brancos que quisessem
disputá-los com os índios. Essa ação provocou uma guerra que durou mais de 50
anos. (COMIN, 2004, p.04)
Pe.
Luiz V. Mamiani, que trabalhou com os Kiriri aponta em sua obra um suposto
“aparentado” dos Tremembé com o povo da nação Kiriri [1], fato observado pela comunicação
do poromguetá falado pelos Tremembé.
Como era uma comunicação bastante insuficiente, pois os Kariri pertencem, como
se sabe hoje, ao Tronco Macro Gê, já possuíam em seu léxico muitas palavras
oriundas do tupinambá devido a catequese forçada aos “tapuya”, ou seja, ao
falantes de língua travadas. Ambos, Kiriri e Tremembé não faziam parte do
tronco Tupi, o que os aproximavam geograficamente, mas não linguisticamente
(até o momento em que os Tremembé deixavam de falar sua língua materna e
passavam a adotar o poromonguetá[2],
já falado pelos filhos da aliança anteriormente postulado com os espanhóis e,
principalmente, com holandeses). A estes aspectos citado acima e aos fatores
das estratégias da coroa portuguesa Mamiani coloca,
Após a conquista
resulta certo que somente os Teremembés
aparentados próximos dos Quiriris, ocuparam maior trecho da Costa, de
que fizeram mau uso, e foram por isso impiedosamente castigados em 1679 pelo
mamaluco Vital Maciel Parente, de ordem do Governador do Maranhão Inácio Coelho
da Silva. (MAMIANI, 1942, XX) [grifo nosso]
Com a expulsão dos holandeses do
nordeste e o extermínio de alguns grupos indígenas que formaram alianças até o
fim com invasores europeus e a aquisição da Língua Geral (denominada então de poromonguetá[3]) pelos Tremembé, foi
crucial a compreensão do que se sucedeu com os Tremembé com outros grupos
indígenas dessa região do Brasil colonial. É um fato histórico que houve
preeminência da língua boa. Prova
indubitável dessa nova aquisição é a presença marcante do poromonguetá na
toponímia da região costeira do Ceará, dos quais podemos citar, Camocim,
tatajuba, Preá, Jericoacoara, Itarema, acaraú, jijoca, etc. essa região
habitada deveras a muito tempo não recebeu nomes das línguas indígenas faladas
do tronco Jê. Já
que o era o mais esperado, e sim do poromonguetá.
Prosseguindo com o arcabouço histórico podemos perceber que nos séculos XVI e XVII, os Tremembé ocupavam a extensa região litorânea que segue do atual Pará ao Ceará[4]. Com a colonização portuguesa, aldeamentos missionários foram criados, destacando-se o de Tutóia (Maranhão), controlado pelos jesuítas, e o do Aracati-mirím (Ceará), que era controlado por padres seculares. A criação da Missão do Aracati-mirím ocorreu muito provavelmente no século XVIII. É de conhecimento histórico que algumas sesmarias foram doadas aos religiosos, e mais especificamente aos padres seculares, na região próxima à Missão entre 1724 e 1744. A aproximação geográfica entre os tapuyas e os Tremembé era de tal forma inevitável e constante (pelo de se comunicarem através do poromonguetá) que alguns registros chegam a se referirem às terras aldeadas como Missam do tapuya Tramanbe. Esse empreendimento teve tão grande impacto na vida social dos Tremembé que depois passou a ser chamada de Missão de Nossa Senhora da Conceição dos Tramambés. Entretanto, não foram só as missões responsáveis pela difusão da língua geral, com a tomada das terras da nova política da coroa portuguesa, os Tremembé queria de alguma forma garantir a posse da territorialidade de um lado e os colonizadores, agora fixos na nova região, queriam terra para a criação de cabeças de gado. Desta forma, por volta de 1750, houve um mudança nos padrões da politica imperial, os Tremembé, como também de outras etnias, se sentiram forçados a se misturar com os brancos (bem como também com os negros) para segura-lhes a faixa litorânea. Além disso, a nova realidade que revestia o Brasil travou suas garras na dimensão linguística, impedindo os indígenas de falarem suas línguas, bem como se iniciou o processo de incorporação dos bens pela então instituída lei administrativa. Em 1863, não acreditando que as medidas cautelares da língua e dos bens fossem surtir efeito o Governo Provincial tentou extinguir os indígenas do nordeste por decreto (COMIN, 2004, p.04).
Prosseguindo com o arcabouço histórico podemos perceber que nos séculos XVI e XVII, os Tremembé ocupavam a extensa região litorânea que segue do atual Pará ao Ceará[4]. Com a colonização portuguesa, aldeamentos missionários foram criados, destacando-se o de Tutóia (Maranhão), controlado pelos jesuítas, e o do Aracati-mirím (Ceará), que era controlado por padres seculares. A criação da Missão do Aracati-mirím ocorreu muito provavelmente no século XVIII. É de conhecimento histórico que algumas sesmarias foram doadas aos religiosos, e mais especificamente aos padres seculares, na região próxima à Missão entre 1724 e 1744. A aproximação geográfica entre os tapuyas e os Tremembé era de tal forma inevitável e constante (pelo de se comunicarem através do poromonguetá) que alguns registros chegam a se referirem às terras aldeadas como Missam do tapuya Tramanbe. Esse empreendimento teve tão grande impacto na vida social dos Tremembé que depois passou a ser chamada de Missão de Nossa Senhora da Conceição dos Tramambés. Entretanto, não foram só as missões responsáveis pela difusão da língua geral, com a tomada das terras da nova política da coroa portuguesa, os Tremembé queria de alguma forma garantir a posse da territorialidade de um lado e os colonizadores, agora fixos na nova região, queriam terra para a criação de cabeças de gado. Desta forma, por volta de 1750, houve um mudança nos padrões da politica imperial, os Tremembé, como também de outras etnias, se sentiram forçados a se misturar com os brancos (bem como também com os negros) para segura-lhes a faixa litorânea. Além disso, a nova realidade que revestia o Brasil travou suas garras na dimensão linguística, impedindo os indígenas de falarem suas línguas, bem como se iniciou o processo de incorporação dos bens pela então instituída lei administrativa. Em 1863, não acreditando que as medidas cautelares da língua e dos bens fossem surtir efeito o Governo Provincial tentou extinguir os indígenas do nordeste por decreto (COMIN, 2004, p.04).
A LÍNGUA DO POVO TREMEMBÉ
Sabe-se
que não há vestígios documentais da nossa língua, outrora falada pelo povo
Tremembé. Em outras palavras, perdeu-se historicamente a dimensão nativa da
língua materna, mas podemos te acesso a sua trajetória histórica de forma
indireta,
Pouco se sabe a respeito da língua dos
Tremembé. Através das suas canções e das suas danças, encontramos palavras que
nos dão a noção de como essa língua é bela. (semana dos povos indígenas/ceará,
2004,p)
Um
estudo mais detalhado, como estou realizando[5], sobre as letras do Torém e uma
convivência com caboco velho, como diz meu avô, me levou a
procurar reconstituir aquilo que teria sido um dia a nossa língua. O Torém é a maior manifestação da cultura
Tremembé e que passou por um processo de desmitificação e desfolclorização como
bem demostrou Valle (2005) em um artigo para a revista Anthropologicas;
A partir de 1940,
inicia-se uma leva de pesquisas e estudos folclóricos, etnológicos e históricos
sobre os Tremembé e o torém (Pompeu Sobrinho 1951, Seraine 1955, Novo 1976). A
maioria dos pesquisadores tratou a dança por um viés típico da “etnologia das
perdas” (Oliveira Filho 1999). Era definida como folguedo ou dança folclórica
organizada por caboclos ou descendentes de índios.
Cito Valle (2005) nas mediações do
processo de aceitamento reflexivo de um dado cultural novo como componente
diacrítico de um grupo étnico, é e sempre será motivos para amputamento
sociocultural do material “inventado”. Mas, concordando com Valle quando aponta
que,
De fato, muitos elementos da tradição podem
ser de criação ou incorporação recente, alguns até mesmo sendo tomados de
‘empréstimo’ de outras origens culturais. Como as identidades, as tradições são
contextuais e fluídas, nem o simples acúmulo do passado e nem dependentes de
uma fonte exclusiva de autenticidade. Seu caráter singular está fortemente
assentado na ação presente dos atores e grupos sociais, que redefinem e
remodelam formas culturais, algumas já conhecidas, outras produzidas por eles
mesmos. Assim, muitas manifestações, que não eram vistas como tradição, passam a
sê-lo a partir de dinâmicas sociais específicas, que podem, inclusive, envolver
diversos grupos sociais e agências. (VALLE, 2006, p. 191)
É nesta perspectiva que os dados que
apresento sobre o poromonguetá,
baseado em suma na tradição oral que existe fora da região do “aldeamento” e da
“terra da santa”, ou seja, como categoricamente, nós [6] é preconceituado na
literatura indígena sobre o povo Tremembé, os
de fora [7].
Retomando a questão da trajetória da língua Tremembé, para alguns autores (Pompeu Sobrinho, 1951; Seraine, 1955 e Nimuendaju, 1981) a língua nativa dos Tremembé pertenceria a alguma família linguística especifica no passado, ou seja, no período pré-cabralino onde;
Retomando a questão da trajetória da língua Tremembé, para alguns autores (Pompeu Sobrinho, 1951; Seraine, 1955 e Nimuendaju, 1981) a língua nativa dos Tremembé pertenceria a alguma família linguística especifica no passado, ou seja, no período pré-cabralino onde;
Aryon Rodrigues [...] chama a atenção (no
artigo “Descripción del tupinambá en el período colonial: el arte de Anchieta),
para o fato de que Fernão Cardim, em 1584, mencionou 68 idiomas distintos do
Tupinambá numa área que corresponde aproximadamente aos atuais Estados de
Sergipe, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro. [...]. (RODRIGUES, 1993, p.07)
Provavelmente este número deveria
ser maior, mediante a estimativa antropológica e histórica indicada no início
deste artigo e é, razoavelmente possível, que a língua nativa falada dos
Tremembé esteja entre estas. Suposições realizadas pelos escritos de D’Evreux
(2002) datado de 1615 aponta hostilidade entre os grupos falantes do tupi com o
povo Tremembé, colocando-os como inimigos ferrenhos. A hostilidade entre grupos
étnicos não implica necessariamente afastamento linguístico, já que Seraine
(1955) aponta em seus estudos, características peculiar no léxico do Torém como
sendo oriundos do Tupi ou da Língua Geral.
A incerteza é compreensiva visto que o poromonguetá corresponderia a uma vertente do tupi, distinta e mesmo ainda próximo da Língua Geral, sendo esta em via de expansão para o interior do país, chegando e firmando como língua de comunicação stand-up da região (nheengatu) falado pelos missionários, bandeirantes, viajantes, comerciantes e por grupos dos mais diversos troncos e famílias linguísticas testamente alheias ao tronco tupi, no alto Rio Negro, no estado do Amazonas.
A incerteza é compreensiva visto que o poromonguetá corresponderia a uma vertente do tupi, distinta e mesmo ainda próximo da Língua Geral, sendo esta em via de expansão para o interior do país, chegando e firmando como língua de comunicação stand-up da região (nheengatu) falado pelos missionários, bandeirantes, viajantes, comerciantes e por grupos dos mais diversos troncos e famílias linguísticas testamente alheias ao tronco tupi, no alto Rio Negro, no estado do Amazonas.
Outra suposição a nível popular [8]
foi a de que fossemos falante de uma língua oriunda do tronco macro Gê.
Entretanto documentação e estudos geolinguístico demostram que:
Desde o Paraguasú e
rio São Francisco até ao Itapucurú, talvez até ao Gurupi, encontravam-se
disseminados os Quiriris ou Cariris, quando os Portugueses começaram
a ocupar o Norte e Nordeste do Brasil. Da tradição conservada pelos
missionários infere-se que vieram da parte do Norte, de um lago encantado, que
bem pode ser o Amazonas – sugere Capistrano de Abreu; descendo pelos
Tupiniquins, depois pelos Tupinambas, que teriam acossado para o interior, rumo
de Oeste.
“etnograficamente,
distinguiam-se os Quiriris dos povos
vizinho pela agricultura mais desenvolvida embora em grau inferior a dos Tupis
[...] sabe-se que dali só retiraram quando forçados por adversários mais
poderosos.” (MAMIANI, 1679, XX)
Mapa da região falada pelos grupos indígenas do tronco Macro Jê
|
Segundo o tupinólogo Eduardo de
Almeida Navarro, na introdução de seu Curso de Língua Geral (2011) afirma que
A língua tupi de São
Vicente, a de Pernambuco (gramaticalizada pelo padre Luis Figueira) e a do
maranhão tinha algumas diferenças com relação ao tupi que Anchieta
gramaticalizou [...] há indícios que tenha havido uma língua geral também na
costa do Brasil com efeito, o próprio Gregório de Matos disse em seus versos: “há cousa como ver um paiaiá / Mui prezado de
ser Camamuru / Descendente de sangue de Tatu / Cujo torpe idioma é Cobepá?”
copebá é corruptela de ereicobépe? (passas bem?), na forma de
cumprimentos em tupi antigo (Catecismo de Antonio de Araújo, 1618, p. 54). Ora,
se os índios paiaiás, que não eram tupis, diziam isso, é porque também houve
língua geral na Bahia. (NAVARRO, 2011, p.6)
Pelo trecho de Navarro (como de
outros historiadores inclusive do próprio Padre Anchieta) é possível deduzir
que existiam várias línguas gerais
espalhadas pela costa brasileira, inclusive maranhão (de onde nós Tremembé
também habitávamos). O Estado do Maranhão, conforme ainda Navarro,
A língua geral
amazônica não foi língua de nenhum grupo indígena antes da chegada dos europeus
a América. Ela começou a se formar no Maranhão e no Pará da língua falada pelos
tupinambás que ali estava e que foram aldeados pelos missionários jesuítas, juntamente
com outros índios de outras etnias e de
outras línguas. (grifo nosso) (apud Navarro)
Segundo Alegre,
Apesar de falarem
apenas o português, os Tremembé guardam resquícios da língua nativa e mantém
uma notória diversidade no falar, figuras de linguagem próprias e diferenças no
uso da fonética, em relação à população regional. Os cânticos do Torém
contém muitas palavras do antigo idioma
dos Tremembé misturadas a vocábulos de
origem Tupi (Pompeu Sobrinho, 1951; Seraine, 1955; Pinto, 1975). Por meio da
música e da coreografia, o Torém ritualiza as relações dos ancestrais
com os animais e as plantas, tendo se tornado o símbolo político da afirmação
étnica dos Tremembé contemporâneos (Oliveira Júnior, 1998). (ALEGRE, 2000,
p.14)
Artigo em construção [...]
Notas:
[1] Interessante essa informação, pois
existem hipóteses, no senso comum, que a língua dos Tremembé fosse do tronco
Gê, o que se descarta posteriormente com Meatrux.
[2] O poromonguetá
foi uma variação dialetal derivada de uma das línguas tupi faladas na costa do
nordeste, uma língua geral, diferentemente da língua geral falada na região
sudeste e, posteriormente, na região norte do Brasil devido a migração indígena
e dos bandeirantes. Entraremos em
detalhes posteriormente.
[3]Adiante veremos como a terminologia poromonguetá
foi usado em contraposição a terminologia pejorativa de tapuias dadas aos não
falantes do tronco tupi.
[4] (Tomás, 1981; Nimuendaju, 1981; Metraux,
1945; Pompeu Sobrinho, 1951).
[5]
Estudos Linguísticos Preliminar: O Poromonguetá Do Torém. Arquivo pessoal.
Disponibilizei uma prévia no meu blog: www.xembae.blogspot.com, lá também
encontrarão mais postagens sobre o meu povo e sobre o poromonguetá.
[6] Ao emprego do Nós refiro-me, em termo
de desabafo, aos Tremembé, como eu, que não nasceram e nem se criaram na TIT
(Terras Indígenas Tremembé) embora meus pais sejam nativos de Jericoacoara e
meus avós e bisavôs nativos da região de Acaraú e Itapipoca, considero-me e sou
Tremembé, de sangue, cultural e socialmente, e não um descendente. Há muitos Tremembé espalhados ao longo da costa norte
do nordeste, interiores, tais como em Bitupitá, Camocim, Meruoca, Tatajuba, bem
como no Estado do Maranhão, entre outros que ainda não assumiram a identidade,
mas que preservam muitos aspectos então desconhecidos da nossa cultura
Tremembé, somando positivamente ao nosso povo, como as informações sobre o poromonguetá que coletei, na minha
adolescência sem saber do que realmente se tratava, e antes da minha formação
antropológica.
[7] Aqui
abro um parêntese reflexivo: no artigo de Maria Sylvia Porto Alegre (2000)
intitulado Evocações da terra tirada
Memória social e consciência política na tradição oral do índios Tremembé,
apresentado ao XXIV Encontro Anual da ANPOCS. Página 12, na nota de rodapé diz
seguinte: Os relatos que coletamos confirmam os encontrados anteriormente por
Valle (1993), quando diz: "É certo
que a gente de fora representa todos aqueles que não são de dentro do
Aldeamento. Isso significa também, segundo os Tremembé, que não nasceram
ou se criaram na Terra da Santa, no território étnico. Pode-se dizer
também que não são filhos naturais de Almofala. Essas categorias e
expressões operam no sentido de qualificação étnica, evidentemente. A gente
de fora não pode se achar ou ser considerada como índia, afinal não
é filho da Terra de Almofala".
[8] Na região de Itapipoca e proximidades, os
tremembé mais jovens acreditam que nós éramos falantes de uma “língua chamado de macro jê”, a própria
terminologia mostra a necessidade de esclarecimento linguísticos sobre
definição de língua, tronco e família linguística.
Referencias
ALEGRE, Maria Sylvia
Porto. Evocações da terra tirada Memória social e consciência política na
tradição oral dos índios Tremembé. XXIV Encontro Anual da ANPOCS. GT Biografia
e memória social. Universidade Federal do Ceará. Petrópolis - Rio de Janeiro.
23 a 27 de outubro de 2000.
BARROS, Maria Cândida
Drumond; BORGES, Luiz C.; MEIRA, Márcio. A língua geral como identidade
construída. Revista de Antropologia, São Paulo, 1996. v. 39, n.
1, p. 191-219.
Homo brasilis,
organizado por Sérgio D. J. Pena, FUNPEC - Editora, SP. 2002. As Línguas
Indígenas e a Pré-História* Denny Moore1 e Luciana Storto.
LÍNGUAS INDÍGENAS DO
BRASIL NO LIMIAR DO SÉCULO XXI. LUCY SEKI. impulso nº 27,233 a 256.
MAMIANI, Luiz
Vincencio. 1942 [1698]. Catecismo da Doutrina Christãa na Lingua Brasilica
da Nação Kiriri. Lisboa. (Edição fac-similar, Rio de Janeiro: Biblioteca
Nacional).
NAVARRO, Eduardo de Almeida. Curso de Língua
Geral. (nheengatu ou tupi moderno): A língua das origens da civilização
amazônica. 1ª edição. São Paulo. 2011.
OLIVEIRA JUNIOR, Gerson Augusto de. Torém:Brincadeira dos índios velhos.São
Paulo.
Annablume: Fortaleza: Secretaria da Cultura e desporto, 1998.
RODRIGUES, Aryon
Dall’Igna. Línguas indígenas: 500 anos de descobertas e perdas. D.E.L.T.A,
São Paulo, 1993. v. 9, n. 1, p. 83-103.
SEMANA DOS POVOS INDÍGENAS/CEARÁ- COMIN. 2004.
STEWARD, Julian H. (ed.) Handbook of South American IndiansVol. 1: The marginal tribes, p. 573-574. Smithsonian Institution, Bureau of American Ethnology, Bulletin 143 Washington: Government Publishing Office
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VALLE, Carlos
Guilherme Octaviano do. Compreendendo a
dança do torém: Visões de folclore, ritual e tradição entre os Tremembé do
Ceará. Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 9, volume 16(2): 187-228
(2005)
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