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Neuropsicopedagogia, Memória e Aprendizagem: Como Aprender Bem!


 Anauê, xe iru gûe!

Nesta postagem vamos abordar a aprendizagem do ponto de vista da neuropsicopedagogia. Vamos falar da memória e do processo de aprendizagem na ótica da neurociência, incluindo a memória como elemento fundamental desse processo.

Nos estudos de uma pós-graduação que estou realizando em Neuropsicopedagogia, pude compreender uma dimensão do processo de aprendizagem que até então não era muito claro pra mim. Afinal como que aprendemos? Porque uns aprendem tão rápido e outros tão devagar (quando “não aprendem”, será?), porque as pessoas rotulam dizendo: este é inteligente e aquele não, ou mais dentro da nossa vida de estudante, estudo tanto e não lembro de quase nada? 
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Estas questões são nosso norte. É a partir desses problemas que vamos nos posicionar aqui neste post.

Primeiramente, para entendermos o que se passa nesse processo de aprendizagem, precisamos entender como que funciona o cérebro no sentido mais restrito, como que é gerado esse “conhecimento” onde ele “fica” e como se acessa. Então vamos lá!

O cérebro faz parte do Sistema Nervoso Central (SNC), é um dos principais órgãos do corpo, é ele que comanda todo o corpo, na verdade. O cérebro se inicia logo nas primeiras células embrionárias, da qual chamamos de placa neural que tem aproximadamente 250 mil células neurais, os neurônios. Ao longo da nossa gestação (da mulher é claro) essa placa, menor que a cabeça de um alfinete, vai amadurecer com seus mais de 100 bilhões de neurônios!
O interessante é o que ocorre quando aprendemos. Quando somos estimulados, através dos sentidos, esses estímulos ocorrem a nível atômico no interior da célula. Aquilo que processamos como informação nada mais é do que trocas de impulsos elétricos no neurônio e entre neurônios. 
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A capacidade dos neurônios de transmitir informação é conferida pelos seus prolongamentos: o axônio e os Dentritos. os axônios são revestidas por uma substância chamada de bainha de mielina. Isso significa que quanto mais mielinizado forem os axônios, mais rápido são as sinapses e mais rápido acontece a aprendizagem.  Os dentritos recebem os estímulos, sendo portanto, responsáveis pela despolarização ou hiperpolarização, em outras palavras menos complicadas, controla a entrada e a saída de íons. Não tem muito segredo, tudo o que ocorre no neurônio nada mais é do que uma interação entre íons de potássio (K+), sódio (NA+) e cloro (CL-), absurdo e assustador isso não é mesmo? nisso o cérebro gera impulso elétrico que percorre  pelo neurônio a uma velocidade de 720km/h e gera entre 60 e 70 Mv (milivolts).
Agora, imagina bilhões de células fazendo isso ao mesmo tempo! É o que chamamos em neurociência de tempestade neural. Um produto neural é o resultado de uma combinação específica de neurônios. Cada neurônio é capaz de fazer até mil conexões (sinapses) simultaneamente.

Então, levando isso em consideração podemos afirmar que a capacidade de aprender, em teoria, ocorre igualmente em todos os indivíduos que possui uma formação regular do cérebro. Claro, que existe alguns imponderáveis que pode afetar essa formação regular, tais como, mal formação cefálica, patologias, acidentes intracranianas e etc. Uma informação interessante, a saber, é que a base de transmissão ocorre na bainha já mencionada. Essa bainha é um invólucro de membrana plasmática de células de glia, que facilita a transmissão dos elétrons, ou seja, quanto maior for a bainha, melhor vai ser o processamento desses elétrons, de tal forma, que se alguém tiver uma bainha curta ou adelgaçada, será mais lenta nesse processo (afetando o raciocínio), isso, todavia, não implica ainda, necessariamente, redução da capacidade de aprender.
Tudo o que falamos até agora implica na capacidade de aprender. Aprendizagem equivale, inicialmente aqui, a estímulos. Quanto mais estímulos, maior o processo de aprendizagem. Dai faço a pergunta clássica: quanto por cento utilizamos a capacidade do nosso cérebro? Quem já tem afinidade com o tema, provavelmente, dirão que menos de 10%. Uma frase famosa é essa “Albert Einstein utilizou 10% do seu cérebro”. A realidade. Usamos 100% ! todo mundo usa a capacidade máxima do seu cérebro. Lembra que 1 neurônio poder realizar até 1000 sinapses ao mesmo tempo? Agora multiplica esse 1.000x100.000.000.000, um número absurdamente assustador de informações que nós, todos nós, processamos a cada segundo. Você que agora está lendo esse post, está processando em torno de 300.000 mil informações por segundo!! Informações auditivas (centenas de cheiros estão no teu entorno), informações visuais (nosso olho percebe a luz através de células chamadas de cones, existem três tipos de cones, cada um percebe uma frequência diferente de cor, estima-se que há 6 milhões de cones em cada olho e que podemos perceber mais de 10 milhões de cores!), informações táteis, palatal, olfativas e por ai vai. Tudo isso processamos inconscientemente. Em síntese o nosso cérebro é um supercomputador, com um processamento milhões de vezes maior do que os mais avançado da nossa atual tecnologia. Na verdade, os computers atuais em frente a complexidade do nosso cérebro parecem objetos arcaicos! Legal, né. Para dar conta de tanta informação o cérebro meio que se autoestruturou criou zonas de atividades para gestar melhor estas atividades cerebrais. Podemos dividir em lobos. Como podemos observar abaixo. Além de dividir em hemisférios, responsáveis pela as nossas atividade como podemos sintetizas na imagem logo a seguir.





Mas, nem tudo são flores. Apesar dessa capacidade monstruosa de processar informações, temos uma percentagem bem, mas bem pequena mesma, de consciência dessas informações. Toda a informação input que o cérebro processa esbarra em um outro processo, em um outro nível, que chamamos de consciência. Essa, por sua vez, é um filtro seletivo que pode armazenar dois tipos de informações, as informações relevantes e as irrelevantes. Ao passar pelo filtro teremos informações que podem ser relevantes ou não, ambas passam pela memória de curta duração, as informações irrelevantes são “descartadas” (vão para o subconsciente), as informações relevantes vão sendo alocadas na memória de longa duração. Essas informações são resgatadas “puxadas” a consciência sempre que assim for precisa.
Não podemos acessar esse mecanismo do filtro de forma voluntária, mas podemos orientá-la a trabalhar ao nosso favor e efetivar uma aprendizagem.
A partir daqui entraremos em um outro jogo e vocês perceberam como é possível aprender a aprender!
Então, a principio nós podemos afirmar sem medo de ser feliz: 1º todo mundo aprende, independente da faixa etária ou da condição social, cultural, religiosa, etc; 2º não existe memória ruim ou memória fraca (escutei muito a frase na minha carreira de docente, “eu não dou para os estudos”), vamos descartar essa afirmação negativa, ok , por fim,  3º não existe pessoa mais e/ou menos inteligente, o que existe são pessoas “treinadas” para determinado processo cognitivo. E o que veremos mais adiante.
Como não podemos controlar o filtro que deixa um processo cognitivo consciente, podemos orientar o nosso cérebro a fazer isso. A primeira coisa que devemos entender nesse processo é que aquilo que é relevante está associado ao interesse, ou seja, aquilo que é agradável, divertido e bom. Esse aspecto da informação como interesse eleva sua fixação a 87,8% na nossa atividade cognitiva. Por isso, as pedagogias das novas tendências primam a questão lúdica no processo de ensino-aprendizagem. Se uma coisa te agrada, provavelmente você se lembrará mais facilmente. Dai que é bem mais fácil nós nos lembrarmos (memorizada) de uma piada nova e engraçada depois de uma semana, do que de uma fórmula de matemática, física ou uma regra gramatical. Beleza, mas ai tem coisas que não é nada engraçada, nem divertida e o pior, até entediante (a nível pessoal), mas que é importante e necessário...

Calma! Falamos que aquilo que é interessante flui com mais naturalidade no processo de memorização. Outro processo que vai acelerar a sua aprendizagem, memorização e efetivação de domínio de um processo cognitivo, é transformar uma informação em uma imagem, que pode estar associada a outra imagem do nosso campo de interesse. Estudos neurocientíficos demonstram que a capacidade de lembrar, logo memorizar, uma imagem é 75% maior do que, por exemplo, dados ligados a números ou palavras. Durante os estudos do módulo sobre neurociências aplicadas aos estudos neuropsicopedagógicos, aprendemos que o processo de associação com o mundo é imagético. A criança realiza associações observando, não palavras, mas imagens. Dai que é comum a gente lembrar mais dos “rostos” das pessoas do que o seu “nome”. Em uma sala de aula com 30 pessoas, você se lembrar da imagem das pessoas, até os conhecem, mas depois não lembrar do nome (ai, aquele menino estudou comigo, olha aquela menina foi da minha sala, eu lembro dela, mas não sei mais o seu nome! Como diria Beckman: FATO!). A imagem possui uma característica muito impactante no nosso processo cognitivo. Agora imagine ai o que é mais impactante, a palavra não fume! em uma carteira de cigarro ou uma foto? É nessa perspectiva que o Ministério da Saúde encheu as carteiras de cigarros com avisos sobre o mal que se faz a saúde o seu consumo (pegou pesado nas imagens... se está certo ou errado, ai já vamos entrar no campo da ética)... “porque falar não é o suficiente”. 

Quando eu estava fazendo o mestrado em antropologia e estava no campo, com o povo yanomami, eu procurava o máximo transformar as palavras em imagem. Isso acelerou 125% a minha aprendizagem da língua. De tal modo que quando uma criança me falava hei hii kë hi ou dizia kihi hiima kë a  ou ainda ɨranɨ xama a warema eu remetia imediatamente as imagens, da árvore, do cachorro e da onça comendo anta, respectivamente, sem passar pela “imagem gráfica da palavra”, sem traduzir para o português mentalmente, para só depois tentar visualizar, entende?
Até aqui já realizamos um percurso bem interessante. Sabemos que para aprender precisamos estar interessado, precisamos converter as informações em informações visuais, precisamos fazer associações entre imagens e as imagens que já possuímos. Em termos gerais, precisamos estimular o cérebro a aprender, com os elementos já mencionados anteriormente. Antes de prosseguir é interessante ainda apontar outro elemento que é motivo de muuuuuitas críticas. O processo de aprender passa pela capacidade de reter informação e resgatá-la, que por sua vez, passa pela memorização da informação, afinal, como se aprende se não lembra? Não é verdade? Mas, embora o processo a nível molecular ocorra igualmente em todos os cérebros que se conheça na fase da terra (troca de íons no interior, eletricidade, dentritos e etc) a forma de processamento cognitivo ocorre de forma diferente.
Nos meus estudos em neuropsicopedagógico eu denominei de Fluxo cognitivo (adoro criar conceitos, para uso pessoal é claro!). O fluxo cognitivo é a forma em que o nosso cérebro é estimulado e como ele recebe este estímulo dentro de uma dinâmica psicossomática. Eu observei dois tipos de fluxos cognitivos: fluxo cognitivo passivo e o fluxo cognitivo ativo. No fluxo cognitivo passivo os estímulos ocorrem de forma interna e dimensão psíquica é nula, no sentido de estímulos externos. Resumindo, pra não ser demais chato, a concentração e a aprendizagem se dá no SILÊNCIO. Tem gente que não consegue estudar, ou melhor, se concentrar, com barulhos externos. Já o fluxo cognitivo ativo é o contrário, estudar escutando música (e alto!), assistindo tv, conversando ou na pior (e mais comum) das hipóteses, no ônibus lotado indo pra escola ou pra faculdade! Muita gente acha estranha como que se aprende assim. O estímulo no FCA ocorre como filtro, é isso mesmo, como filtro! Enquanto você está estudando o barulho ambiente favorece uma gama de elementos de distração (é a mãe que chama, é irmã que te perturba, é um cachorro que late, é um carro passando... humm agora eu sei de onde veio a inspiração de Tom Jobim,rsrsr). Então, quando alguém absurdamente estuda escutando música, ela está fazendo que o estímulo seja focado no que ela lê e está fazendo associação auditiva, tornando a forma de estudar mais prazerosa e, como já sabemos, o que nos dá prazer é mais fácil de assimilar.

Desta forma, não existe uma forma correta de aprender, com ou sem barulho. Aprendemos de formas diferente no sentido de sermos estimulados de formas diferentes.

Por fim, Algumas dicas
Para aprimorar nossos estudos precisamos, primeiramente, estimular o nosso cérebro, e com isso quero dizer, que precisamos usar vários canais sensoriais simultaneamente. Durante os estudos, naquilo que tenha dificuldade de assimilar, quando você estiver lendo e terminando o paragrafo não entendeu nada, releu e leu e ainda não entendeu (é porque provavelmente, está com foco em outra coisa e, por isso, não consegue ler), então leia para si mesmo em voz alta, a pronúncia em voz alta estimula os sentidos. Segundo, procure ensinar. Sim ensinar! 

Quando a gente tenta ensinar alguém algo que acabamos de estudar isso força os dados a se fixarem na memória de longo prazo. Convide um colega do curso, um primo ou alguém próximo e tente explicar o que acabou de ler e você vai ver a diferença. Terceiro passo, se a ideia é estimular o cérebro, então, além de ler em voz alta e  explicar para alguém o que você leu, procure escrever as palavras chaves dos textos das suas leituras (o tão famoso fichamento, mas resumidamente) ajuda muito se você utilizar bloco colorido, cada conceito chave em uma cor. As cores servirão de gatilho na hora de lembrar e farão fluir bem o que você aprendeu. Na quarta dica é construir um mapa conceitual. Um exercício interessante, porque possibilita você trilhar uma obra volumosa em poucos passos. Um mapa mental são conceitos que você já seleciona concatenados ou interligados formando um todo (inclusive com imagens para reforça ainda mais o estimulo no cérebro).  Abaixo dois tipos de mapa mental. 


Por fim, precisamos revisar e revisar. O cérebro passa por um processo chamado de Curva do Esquecimento, uma teoria proposta por Herman Ebbinghaus que demostra a relação do declínio da retenção da memória no tempo. A Forgetting Curve é um processo que pode ser evitado. Quando você adquire uma informação, se ela não for importante, pelo menos não considerada como tal, ao longo do tempo, a retenção na memória será descartada aos poucos. A curva é tão voraz que estudos apontaram que você chega a perder até 50% (em alguns casos) da informação retida no dia anterior. depois de um mês a retenção da memória cai para +30% depois, mano, já era....não lembramos de quase nada ou muito vagamente... acompanhe o gráfico abaixo da curva... depois de um mês só resta 5% do que conseguimos reter, salve a revisão sistemática!

E finalmente, é preciso dormir bem. Quando dormimos o cérebro reorganiza o que aprendemos.  É neste momento "offline" que ele vai processar as informações no seu ritmo. Em outras palavras, por incrível que pareça, o cérebro aprende enquanto dormimos. Lembrando que dormir bem não é acordar tarde, rsrsr

É isso, vamos recapitular:
1.      Ler em voz alta;
2.      Ensinar o que aprendeu;
3.      Escrever conceitos chaves;
4.      Criar mapa conceitual;
5.      Revisão sistemática (do mapa conceitual e as fichinhas);
6.   Dormir bem.

Dessa forma você estará efetuando um processo verdadeiro de aprendizagem que eu garanto que funciona!

Agora, acompanhe comigo, nos meus estudos de doutorado em Antropologia eu estou estudando 4 disciplinas, cada uma delas exige uma leitura maciça. Em uma disciplina normalmente o professor dispõe de 4 a 6 textos (não o livro todo, mas capítulos, dois ou três, por exemplo) com uma média entre 40 e 92 páginas de leitura por livro. Fazendo uma metamaticazinha básica teremos uma média de 1.920 páginas, por baixo, somando as 4 disciplinas, para ler em um espaço de uma semana (isso porque eu não mencionei a literatura em línguas estrangeiras francês, espanhol e em inglês e nem as leituras complementares, estou falando só da básica). Como lembrar de tanta coisa? Depois que você entra em um certo ritmo o cérebro vai se acostumando com cachoeira de informação e você percebe que não tão pesado quanto se parece. Quem saiu do ensino médio e agora está cursando o ensino superior, ou até mesmo um técnico, depois de um semestre o estudo vai se estabilizando, as dificuldades iniciais vão diminuindo e você vai tomando gosto por estudar e, principalmente, de ler, rsrsrs.  Isso acontece porque o cérebro tem picos de aprendizagem (as vezes estudar a noite rende mais do que a noite, ou vice e versa), segundo porque este espetacular órgão mostra uma incrível capacidade plástica neural (sinaptogênesis) e por fim, ele se modifica aos poucos fisiologicamente e estruturalmente como resultado da experiencia. Legal, né!

Então é isso, espero ter contribuído com a sua aprendizagem.

Vamos propor um desafio, pegue ai uma disciplina que você está com notas baixas e aplique as dicas de estudos aqui mencionada e no final dê um retorno para nós do Xe Mba’e. vou ficar aguardando vocês com boas notas, quer dizer, boas noticias! rsrs



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