OS TREMEMBÉ
QUEM SOMOS NÓS, HOJE, OS TREMEMBÉ?
Anaûé xe anamaetá gûé!
Já faz um tempinho que não posto aqui no nosso espaço de
reflexão chamado de xe mba’e, rsrs. Neste poste, venho colocar a minha visão indígena
sobre os tremembé hoje. Quem são e onde estão?
OS TREMEMBÉ
Os tremembé são um povo que tem sua origem no litoral do nordeste, com presença mais forte e marcante no Ceará e no Maranhão. Entretanto, a presença tremembé se faz em vários estados do nordeste e fora dele, Piauí, onde há famílias em processo de autorreconhecimento étnico, no Pará, no Amazonas e até em São Paulo! Aos poucos muitos tremembé, espalhados em várias regiões do Brasil, estão aflorando e emergindo seu devir-tremembé para a superfície, mostrando a nossa presença em todos os cantos, fazendo dos nossos corpos a nossa própria territorialidade.
Para compreender a situação do
movimento de retomada das várias identidade tremembé, podemos definir as formas
de coletivos que eu compreendo em três grupos:
- ·
Tremembé aldeados;
- · Tremembé comunitários;
- · Tremembé de núcleo familiar:
Essa divisão dos coletivos nos ajuda a compreender que nem todo tremembé é aldeado ou que participa de um coletivo (vivenciando sua essência tremembé em sua própria família). Os tremembé aldeados possuem uma alta organização politica, com morumbixawa (cacique), praticam o Torém, ápice da nossa cultura, com frequência e possui uma realidade culturalmente imersiva na essência daquilo que acreditamos e que professamos como o devir-tremembé. Possuem Conselhos Indígenas Tremembé próprio, como o CITA, em Almofala, que ajuda na tomada de decisões do coletivo, escolas diferenciadas indígenas, onde tratam a educação escolar indígena. Podemos encontrar aldeamentos tremembé de forma mais específica no Ceará. Já os tremembé comunitários normalmente vivem em ambientes urbanos, e se organizam politicamente em um centro de convivência comum (centro comunitários, galpões, escolas, casa de parentes, entre outros). Esses Tremembé vivem na cidade e estão espalhados pelos bairros onde moram e há encontros frequentes para o fortalecimento da identidade e da luta tremembé. Esses aglomerados se fortificam e politicamente tendem a serem também organizado com grande impacto social nas politicas públicas. Os tremembé de núcleo familiar são tremembé que vivem em centros urbanos ou interiorano, mas que não possuem uma organização politica nos moldes de um coletivos. Muitas das vezes essa autodeclaração é processada de forma quase que individualmente, sendo que muitas famílias ainda possuem resistência em se assumir indígenas, quer seja pelo apagamento histórico, quer seja por motivo de perseguição de outrora ou medo, já que em muitas famílias foi forjado o conceito duro que “índio não é gente, é animal”. Os tremembé de núcleo familiar assumem as suas identidades, muitas vezes, no seio da família que não querem se identificar como tremembé, pelo motivos já citados. É um caminho difícil e doloroso para este último grupo, já que o isolamento dificulta uma visualização e uma aceitação étnica, oferendo rejeição entre os não-indigenas e até entre os parentes indígenas. Normalmente, esses são excluídos das politicas públicas, porque nos requerimentos seletivos sempre há exigências da “assinatura do cacique” sendo que esses não possuem. Esses tremembé de núcleos familiares estão espalhados por todo o nordeste e fora dele.
Para além dessas divisões, ainda
há uma organização maior, os tremembé setentrionais e os tremembé meridionais. Essa
divisão marca o modus vivendi dos grupos tremembé. Os setentrionais, são os
tremembé que estão na faixa litorânea, com cultura enfatizada na pesca e na
cultura do mar, alguns também são agricultores. Essa região se estende do
litoral até a faixa da zona da mata. A partir dessa faixa regional (zona da mata)
se inicia os tremembé meridionais que habitam a zona da mata e, principalmente,
as serras, como a de Ibiapaba e Uruburetama. Trabalham exclusivamente com a terra fazendo
manejo da agricultura. Em tempos remotos, os tremembé setentrionais faziam
caravanas do litoral para as serras para trocarem peixe seco por farinhas em grande
quantidades.
NOSSA LINGUA, O POROMOGÛETÁ
Perdemos historicamente a nossa língua ancestral, uma língua gutural, aspirada e marcante, difícil até para os mais peritos da época que acabaram definindo-a como uma língua isolada, não tapuya (kariri) e nem Tupi (amplamente espalhada pelo litoral), alguns autores até tentaram nos classificar como um grupo Jê, sendo a nossa língua do tronco Macro-Jê, mas foi refurtado po outros estudiosos como Pompeu Sobrinho. A nossa língua ancestral e materna, a língua ïpïye’enga (primeira língua) foi ao poucos sendo substituída por uma variante de uma língua Geral (a nível de informação, existiram várias línguas gerais, oriunda da língua tupi) e foi nesse período que surgiu o poromongûetá, nossa língua. A minha hipótese é de que a ïpïye’enga foi uma língua que, paralelamente, era usada apenas no seio familiar e em situação de guerra (para comunicação interna), até que sumiu completamente (ou não, 😉rsrsr). Essa língua ancestral é bem marcada nas cartas holandesas emitidas ao El Rei, por volta de 1560. Muitos termos foram registrados, topônimos, objetos, ações entre outras coisas (que estou estudando minuciosamente em textos antigos holandeses e com calma, hehehe). Por fim, o poromongûetá foi a nossa língua de comunicação até ser substituída pela a língua portuguesa. Mas, mesmo assim, durou o suficiente para nomear acidentes geográficos, regiões, cidades e um sem números de palavras do cotidiano da vida tremembé.
Atualmente estamos com processo gradual, lento e moroso de retomar um pouco dessa riqueza cosmológica que é uma língua. E espero que um dia, um dia mesmo, possamos voltar a dominar essa língua ou incorporar de forma mais robusta no nosso dia-a-dia. Um tremembé visionário falando...
UM POUCO DE HIPÓTESES
A origem exata do nosso povo não sabemos, mas há indícios muito pertinentes de que, provavelmente, tenhamos ligações com os polinésios. Vestimentas ancestrais entre os dois grupos são absurdamente idênticos, a ligação com o mar (Tremembé setentrional), o grafismo corporal, o manejo com as embarcações e os traços (cabelos grossos, longos e ondulados e as presença de barbas, que nos diferenciava dos restantes indigenas do litoral, além da lingua é claro). Todos esses aspectos nos direcionam a olhar os pre-tremembé como tendo suas origens nos polinésios.
Um outro elemento interessantes são as formações ancestrais dos coletivos. Os primeiros contatos nos registraram de várias formas taramambéz, teremembé, treremembé, tremembé. Essas variações podem não ser apenas uma tentativa de grafar o nosso nome étnico (e talvez nem seja esse, ja que foi um nome pejorativo que os parentes tupi nos colocou), mas podem derivar de um sistema de clãs. Isso mesmo! é muito provável que nossa organização tenha sido desta forma. o que é um clã? a grosso modo, o clã é um coletivo social que estão ligado entre si por denominador comum, seja ele um ancestral comum (algum membro importante da genealogia da família), um animal (como totem) e até mesmo um encantado. Essa perspectiva pode explicar as variações culturais entre os tremembé de regiões diferentes do nordeste. Em uns se conservaram cantos antigos do Torém, em outro clã (aspectos da lingua antiga), já em outros sistemas de xamanismos e pajelanças, em outros conhecimentos sobre agricultura, outros clãs guardam o conhecimentos sobres nossa cosmologia (encantados ou deuses, como acharem melhor) e, por fim, outros que guardam outras coisas que não sabemos, AINDA. alguns clã tremembé trabalhavam somente com pesca, ligação total com o mar (os tremembé setentrional), outros clã eram experts em manejo da terra (os tremembé Meridionais) e outros oscilam aqui e ali, por conta das alianças de casamento. Como grupo étnico compartilhamos muitas coisas em comum, o que nos designam pertencentes ao tronco, mas que pela divisão de clãs, sabemos poucos uns dos outros.
Tudo hipótese meu povo!mas...vai saber né , rsrsrs
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