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LÍNGUAS INDÍGENAS BRASILEIRA

LÍNGUAS INDÍGENAS BRASILEIRA

Anauê!
   Nesta série de postagens intitulado Línguas indígenas Brasileira, tenho como objetivo: divulgar as línguas indígenas brasileira, bem como fazer uma exposição das mesmas, tendo a referencia principal as obras do linguista Aryon Dall’Igna.


  Entretanto, antes de iniciarmos o nosso itinerário será interessante fazer algumas ressalvas, conhecida entre os linguistas e antropólogos (como a todos que já mantem um contato ou trabalha, pesquisam de forma mais sistemático com os povos indígenas), mas, que normalmente foge do domínio da população em geral, causando um pouco de confusão sobre as nossas línguas.
                Então vamos lá!
          
             O conhecimento que hoje possuímos das línguas indígenas não deriva de uma única fonte, mas de várias, dos quais podemos mencionar os próprios antropólogos, linguistas, naturalistas, indigenistas, missionários. Todos contribuíram, de alguma forma, para formar a gama de conhecimento que existe hoje sobre as línguas indígenas. Entretanto, como não havia uma convenção para regularizar a forma de transcrever as línguas indígenas, se gerou várias formas de escritas e causou certa confusão em relação aos aspectos linguísticos e gramaticais da língua registrada. Por necessidade e por questões de sistematização, a Associação Brasileira de Antropologia, a ABA, promoveu em 1953 um encontro onde se firmou uma convenção para a escrita e estudos das línguas indígenas. A seguir, faremos uma breve menção aos principais pontos.
           1º - Os nomes dos povos indígenas, bem como de suas línguas, serão empregados como palavras invariáveis. Ou seja, sem flexão de gênero e de número, como acontece na língua portuguesa. Por exemplo, os índios Tremembé (e não tremembés), os Yanomami (e não os Yanomamis) e referente a língua se diz a língua Marubo (e não a maruba), ou a língua Tukano (e não a língua tucana);
         2º - no uso de sons oclusivos serão usadas as letras p, b, t, d, k e g. Em outras palavras, não usaremos c nem q, pois serão substituídos pelo K. Por exemplo, em vez de Caxinauá, Camaiurá, Cambeba e Quiriri, se escreve, Kaxinawá, Kamayurá, Kambeba  e Kiriri. O mesmo acontece com g, se escreve Geren (e não Gueren);
           3º - em relação aos sons fricativos, ficou estabelecido que se usaria f, v, s, z, x e j. Portanto, se escreverá Asuriní (e não Assuriní) e Maxakalí e não Machacalí, como é mais comum sendo usado na mídia;
          4º - para as semiconsoantes i e u que não estão em relação silábica, normalmente em inícios de nomes, como no meio de vogais, serão utilizadas y  e w. Daí que os empregamos em palavras como Yanomami (em vez de Ianomami) e Mawé (em vez de Maué) ou ofayé (em vez de ofaié).

           Acredito que convenção proposta pela ABA ajudou enormemente a sistematizar a escrita das línguas indígenas brasileiras, evitando confusão e ambiguidade dos termos, já que a convenção segue a tabela do IPA (International Phonetic Alfabethic), ou Alfabeto Internacional de Fonética, AIP (sigla menos utilizadas), o que não tem nenhuma influência da língua anglo-saxônica (como eu escutei absurdamente por várias vezes na universidade, que nós antropólogos e linguistas que trabalhamos com os indígenas, estávamos americanizando as línguas brasileiras). Na verdade, temos registros do uso do k, w e y datado desde o século XVII, como, por exemplo, pelo padre Vincêncio Mamiani, publicado em Portugal. Mas o caso mais famoso mesmo é dos registros dos missionários jesuítas no registro da língua do tronco Tupi, do qual, destacamos o padre José de Anchieta, que baseando-se nos estudos das línguas latinas e gregas, propôs, naquela época, uma ortografia mais racional para a língua. Agora que você já tem uma noção breve da convenção ortográfica das línguas indígenas, não custa nada a divulgar e a corrigir futuros erros no seu cotidiano (pelo menos mentalmente, pois, quando você ler por ai: índios ianomâmis estão reunidos em Brasília para lutar pela a Constituição de 88. Saberá o uso correto de “ianomâmis”,rsrsrs )
                Assim, fica claro que as transcrições das línguas requer uma dimensão sistemática e, portanto, técnica. Que tenha características, como diz Rodrigues, supranacionais e possa abarcar todas as suas complexidades e individualidade.
                Pois é, os dados que aqui estão expostos são para auxiliar a leitura das futuras postagem desde série e que, por isso, colocarei logo no inicio das futuras um pequeno lembrete ou uma recomendação para que leia esta postagem antes.

                 Até a próxima postagem!

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