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Gûatá-Ypy: Curso de Tupi Antogo: Aula / 06

Guatá-ypy
(Primeiros Passos)

Lição V III
PARA UM MAIOR CONHECIMENTO DA LÍNGUA TUPI

Olá, pessoal, tudo bom?

Olha a gente ai novamente. É sempre assim, aparece, some, aparece some... Desculpem-me, ta! Mas estamos de volta e com mais uma aula de Tupi Antigo. Nesta aula não trataremos do Tupi Antigo como estamos fazendo até agora.

Vamos fazer uma aula diferente. Vamos tratar sobre os aspectos desta língua Tupi. Na verdade, essa era para ser a nossa “aula inaugural”, mas tudo bem. Antes tarde do que nunca... Quero oferecer a vocês um pouco de bagagem a mais do que a língua tupi em si. E vocês verão que quase sempre tratam equivocadamente nossa língua Tupi, em jornais, revistas, sites, etc. claro que há exceções.

Vamos lá então.
Provavelmente você já ouviu, em algum lugar (televisão, jornal, revista, site e até de algum amigo meio sabidão) uma frase parecida com essa: “essa palavra vêm da língua tupi-guarani”.
E agora, existe uma língua Tupi-Guarani?

O que usualmente se emprega como língua tupi-guarani é, na verdade, como denominamos no âmbito da lingüística descritiva, uma família lingüística. E o que é uma família lingüística? Segundo o critério da lingüística as línguas em todo o mundo são classificadas em famílias das quais podem possuir um critério genético. Ou seja, sendo a família lingüística compreendida como um conjunto de línguas que possui um denominador comum, um mesmo ponto de origem, ela sofre, no decorrer da história modificações, reformulações e reestruturações, uma vez que se trata de uma manifestação humana localizada no espaço e, principalmente, no tempo.
Ué, e o que isso tem a ver com a nossa questão? Calma lá, vamos chegar ao ponto.
Vamos passar para um exemplo mais claro. Muitas pessoas provavelmente nunca ouviram alguém falando tupi, mas com certeza já ouvi espanhol, frances ou italiano. Então, todas essas línguas e ainda o catalão, rumeno e o nosso querido e velho português, provem de uma língua comum, o LATIM. Essas línguas são exemplo de uma família lingüística, denominada de família das línguas românicas, ou simplesmente, família românica, pois elas apresentam características comuns entre si por terem o Latim como língua mãe ou língua de origem. O mesmo acontece com outras famílias lingüísticas como a família Germânica (das quais podemos citar o inglês e o alemão) ou a família Eslava (como, por exemplo, o russo, o polonês, etc). Em analogia a estas está a família tupi-guarani. A diferença mais substancial entre os dois exemplo é que, enquanto, a flor do Lácio fora amplamente documentada e historicamente conhecida, principalmente na literatura romana, pois há registro datado de aproximadamente 2.000 anos, o nosso tupi, infelizmente, não passou por esse processo histórico. Entretanto, mediantes estudos comparativos dos vários dialetos existentes a lingüística nos remetem a uma língua pré-histórica que poderíamos chamar também de Proto-Tupi-Guarani. As proto-línguas, ou língua ancestral, dão origem ao que conhecemos como TRONCO LINGUISTICO. Assim, teremos uma proto-lingua que deu origem a família lingüística Tupi-Guarani que pode ser divido, por sua vez, em dois troncos lingüísticos, o Tronco Lingüístico Tupi e o Tronco Lingüístico Guarani. O mesmo acontece com aquele nosso exemplo, as línguas Românicas, a qual é conhecida como Tronco Indo-Europeu.
E ai, ficou claro? Então, em tese, não existe uma língua tupi-guarani e sim um família lingüística tupi-guarani que gera dois troncos lingüísticos: o Troco Tupi e o Tronco Guarani. Outro dado importante é que, enquanto a família lingüística tupi-guarani abrange uma enorme área geográfica, incluindo vários países do continente sulamericano, inclusive Brasil e Uruguai. Enquanto o Tronco Tupi situa-se, especificamente, no nosso território brasileiro.

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