Pular para o conteúdo principal

Curta Metragem: Vestígios

VESTÍGIOS
PRODUÇÃO DE CURTAMETRAGEM

Olá pessoal olha a gente ai novamente!

Entre minhas pesquisas e estudos, entre antropologia e filosofia, sempre estou produzindo alguma coisa. É um livro escrito aqui, um desenho ali, uma tirinha acolá, mas, dos hobby que mais venho dedicando atualmente é a produção de áudio-visual, de cinema, mais especificamente, de curta-metragem. Pra quem não sabe, muitos dos primeiros antropólogos (etnólogos) foram também, de certa forma, cineastas-documentaristas, pois sempre que possível, eles tinham um filmadora por perto, para registrar a cultura do outro.
Já andei produzindo alguma coisa, animação em stop motion (yoyo wãnowãno), documentário filosófico (Leões do Norte: ecos filosófico da Escola de Recife), experimental (O Sagrado na contemporaneidade) e até filmes educativos de conteúdo filosófico (A Descoberta de Berg). Como se trata de uma realização pessoal, de gostar de trabalhar com cinema, eu ainda não coloquei nem a disposição do público e nem em concursos ou festivais de cinema do nosso país.

Nestes últimos meses venho me dedicando em um novo trabalho. Trata-se de uma produção de um curta-metragem de conteúdo regional. Este sim, vou procurar divulgar. é por isso que ando tão sumido aqui do nosso blog (desculpe-me, ta!), ele está consumido muito do meu tempo, do meu pouco tempo, porque em breve estarei retornando para a área indígena yanomami para trabalhar (lecionar) e realizar minhas pesquisas antropológicas.

Antes, porém, de falar do curta gostaria de fazer uma breve reflexão sobre o cinema nacional.

O nosso cinema nacional vem lutando muito para produzir filmes de qualidade em vários gêneros, de forma mais enfática nos de romance, ação, drama e de humor. Infelizmente, a produção do gênero terror, suspense e ficção ainda há muito a desejar... felizmente podemos contar com produção de baixa renda que lutam para se firmar no mercado, e entre estes está o nosso querido Jose Mojica, o Zé do Caixão, nosso apoio a você amigo!
O fato é que o cinema brasileiro, durante a década de 1990, perdeu mercado e perdeu feio, chegando a ocupar, tristemente, a irrisória presença de 1% das salas de exibição do Brasil, da para acreditar? E isso, em relação aos longas-metragens! Coitado da gente com nossos curtas! Do meu ponto de vista o que desfavorece o setor de curtas é atenção demasiadamente da mídia para com os longas e as superproduções.
Fico feliz que esse quadro depreciativo da década de 90 vem sendo superada a cada produção e a cada década. Contamos com ótimos diretores e com um fomento cada vez mais para a produção do cinema brasileiro. É nesse novo contexto que surge os patrocinadores e os colaboradores, para produção e divulgação dos curtas-metragens. Esses tem grande importância para manutenção e continuidade das produções de curtas-metragens, e não falo apenas do fato de que ele seja uma forma simples de mostrar fatos, acontecimentos, vivências, cotidianos e outras ações presentes no mundo real e no mundo ficcional, mas também, e principalmente, porque é a porta de entrada para muitos diretores encararem posteriormente um looooonga!
Desta forma, a importância dessa cultura, é materializada através de políticas culturais e parcerias (patrocínios) que estimulem a criação, o pensamento e a produção artística de curtas-metragens.

Mas, aqui há outro problema, do meu ponto de vista (vocês podem não concordarem!), é que mesmo com um crescente incentivo da produção do curta [vale observar, por exemplo, as iniciativas de valorização da produção do cinema nacional promovidas pela lei de incentivo à cultura, do governo federal, como, por exemplo, o "Porta Curtas", da Petrobrás ou Curta o Curta] pouca verba de fato, chega as mãos, para realização do projeto cinematográfico de curta, dos nossos cineastas. Quaaaaaando, recebem, passam por uma burocracia tão enoooooorme, que acabam por desistirem. Isso é observado que boa parte da produção de curtas é realizado com baixa, ou baixíssima renda, sendo que boa parte é o próprio diretor, com ajuda de amigos e parentes que financiam os custos da filmagem (sem falar na falta de euipamentos adequado para a produção cinematográfica). Os curtas de maior qualidade (maior qualidade de equipamentos utilizados na produção e que, muitas vezes de péssimo roteiro, me desculpem a crítica), geralmente são produzido por diretores veteranos que possuem portas abertas para a captação de recurso capital aqui e fora do país, enquanto que ótimos cineastas e excelentes roteiristas estão ai lutando para realizar o sonho da produção dos seus curtas.

Vamos para o nosso curta agora?

O nosso curta se chama Vestígios, trata-se da estória de um biólogo (Taylor Gianotti) que vai pesquisar lepidópteras azuis nas florestas do Alto Rio Negro. Em certa altura da caminhada os nativos (Kayowi, Reri e Porã) se recusam a continuar, pois dizem está no território de uma criatura terrível, o Mapynguari. Segundo os indígenas da região, o mapynguari possui uma boca no estomago e devora as pessoas que se perdem na mata. Percebendo que os nativos estão resolutos em suas crenças, Taylor segue sozinho. Nisso ele se perde e acaba sendo guiado por uma criança decapitada até uma cabana. Nesta cabana ele vai se encontrar com o mapynguari e com vultos que o atordoam levando a mais sombria e macabra das experiências humana, o medo.

Legal, né! Para realizar este curta juntei uma galerinha jovem aqui de Santa Isabel do Rio Negro, dispostas, não apenas a gravarem o curta, mas também a aprenderem, pois pretendo dar umas oficinas de cinema (do roteiro a pós-produção, além dos princípios básicos de edição de vídeo).

Por estas razões escolhemos o formato do curta. Para quem não sabe, o cinema tem sua produção dividida em três categorias de filmes: o curta, médio e os, tão conhecidos, longa-metragem. Os curtas são obras cinematográficas de rápida duração, que permitem a transmissão de uma mensagem de forma mais objetiva, por meio de pequenas histórias. O legal de se trabalhar com o curta é que o roteiro de uma obra como essa é um texto literário, conciso, sem excessos. Embora estejamos almejando um historia de 35 min (incluindo todos os créditos) para alguns autores, curta-metragem é toda produção cinematográfica de até 30 minutos de duração. Diferentemente do que estabelece a Agência Nacional do Cinema – ANCINE – apenas as obras cinematográficas ou videofonográficas com duração igual ou inferior a 15 minutos é considerada de curta-metragem.

Há pelo menos três tipos de curtas: o experimental, o documental e o de ficção. O curta experimental é espontâneo e busca explorar uma sofisticação técnica e estética. O documental está sempre relacionado a uma pesquisa, podendo ser narrativo ou descritivo e a figura do roteirista está sempre associada à figura do pesquisador (aquilo que falei dos antropólogos lá no início, lembra?); é um filme informativo para transmitir ao espectador o conteúdo da pesquisa realizada. Já o curta de ficção envolve uma narrativa, um enredo, com personagens, tempo, espaço e outros elementos fictícios necessários para dar vida à narrativa, que é o nosso objetivo com o curta-metragem Vestígios.

O problema dessas classificações é que para outros autores esta é uma classificação limitada, e eu concordo com esse povo ai, já que há filmes que não se enquadram em nenhuma dessas categorias, ou mesclam mais de uma delas. Essa categorização, portanto, defende que os curtas podem ser documentários, animações, pesquisa experimental, ficção ou mesmo outros tipos de filmes. Em geral resultam da produção independente de pequenos produtores, estudantes, pesquisadores, mas também podem ser utilizados pelas grandes empresas de mídia para exibição em programas de curiosidades, notícias, entre outros.

Surgido nos Estados Unidos no início do século XX, quando os filmes passaram a ter maior duração, o termo curta-metragem logo se difundiu. No Brasil, no entanto, ganhou maior expressão na década de 1970. Atualmente, a política nacional de cultura, por meio da Secretaria do Audiovisual e do Centro Técnico Audiovisual – CTAV – tem fomentado a produção do cinema brasileiro, com incentivos fiscais e financeiros, por meio da lei de incentivo à cultura.

A idéia da produção do curta surgiu em outubro de 2010 (ano passado), já visitamos e escolhemos as locações, já selecionamos os nossos atores. Como eu mexo em muitos programas de edição, dos mais simples aos mais complexos, como o After Effect, eu assumo, vários funções no filme (um bom diretor deve saber bem o que faz cada setor da produção do seu curta, fac totum da vida) e para cada uma das funções tenho um auxiliar, a qual vamos trabalhando e aprendo na prática como se exerce aquele função dentro do universo cinematográfico. Meu objetivo é que, em um segundo filme, estes auxiliar possam assumir completamente estás funções.

Apesar de toda animação, do empenho, da dedicação, esbarramos no nosso calcanhar de Aquiles, a falta de verbas! Não temos equipamento de filmagem e ninguém na cidade tem câmera filmadora para emprestar ou alugar, somente o pessoal da TV local, mas a minha equipe não se sente muito animado a tomar essa iniciativa (pelas suas próprias razões), não temos dinheiro para a produção. Estamos fazendo vaquinha, cada um ajuda como pode (infelizmente eu não ganho o suficiente para arcar com todas as despesas como bem gostaria), inclusive para a gasolina do transporte, já que as locações é no sitio e temos que atravessar o rio de canoa de rabeta (motor pequeno de 5HP) em um percurso de 8km.

Apesar de tudo, de todas as dificuldades, estamos confiantes que vamos conseguir. Já andei fazendo alguns testes visuais (para os filtros e efeitos especiais, veja as fotos ao lado/um dele sou eu, fiz o teste em mim mesmo,uhuhuhu) e foi aprovado pelo pessoal. O curta deveria ser rodado em duas línguas, uma delas na língua indígena local, o Nheengatú (que é a língua mais falada aqui nessa região do médio Rio Negro) e a outra em Português. Entretanto, acabamos por rodar em Poromonguetá, a minha língua materna. Estamos, pensado também, em uma versão com legenda em inglês (o filme todo).

E é assim, pessoal, já iniciamos as gravações (e é por isso que ando tão desaparecido aqui do blog) e está sendo uma correria só.









Acima, foto do atores, o de camiseta violeta sou eu.

Comentários

  1. O filme deve ser bom, a idéia de incluir a cultura original brasileira em filmes e outros tipos de divulgação é muito boa para manter a identidade do nosso país e não deixá-lo se levar pelo 'americanismo'

    ResponderExcluir
  2. Ola, meu amigo, que bom, fico contente em contar com seu apoio!
    estamos em processo de edição do filme!
    logo estarei com novidades aqui no nosso blog!
    um grande abraço!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A diferença entre “não posso” e “não quero”.

A diferença entre “não posso” e “não quero”. Gostaria de partilhar aqui uma reflexão filosófica apoiada na linguagem que, em primeiro momento, parece uma bobagem, mas que pode revelar muito da dimensão inconsciente (se de médico e de louco todo mundo tem um pouco, de psicólogo então, nem se fala!) do ser humano na esfera da inter-relação com o outro: a diferença substancial entre o não posso e o não quero . Esta reflexão nasceu de uma curiosidade sobre o uso da linguagem durante as leituras de Habermas, Austin, Lyons e outros lingüistas e filósofos da linguagem. A princípio, ambas as respostas para uma dada circunstância parece ecoar definitivamente como a não possibilidade da realização do fato em questão. Ora, se durante uma visita a um amigo, por exemplo, me convidasse para tomar uma xícara de café e eu respondesse “não posso, obrigado!” ou “não quero, obrigado!”, ambas as respostas, marcaria a negação do ato convidativo a ser realizado. Ou em outro contexto, se minha mãe c

ESTÉTICA E CORPORALIDADE ENTRE OS YANOMAMI

ESTÉTICA E CORPORALIDADE ENTRE OS YANOMAMI DO RIO MARAUIÁ Sabem por que eu adoro antropologia? Porque não é apenas uma ciência, mas, simplesmente porque ela abre a cortina para um mundo totalmente diferente e nós, antropólogos, imbuído nestes mundos como peregrinos, nunca seremos totalmente o outro que está ali a nossa frente e, o pior, nunca voltaremos a sermos o que éramos antes da imersão.  Lembro que tinha uma anseio tão grande em aprender a língua yanomami que nos primeiros meses de campo cheguei a sonhar, literalmente, em yanomami. Acreditava, e acredito criticamente, na utopia malinowkiana da imersão na cultura do outro e foi o que tentei fazer através da língua (também cantei, dancei e participei dos rituais mais profundos[1] que uma pessoa “estranha” poderia participar). A cultura do povo Yanomami é singular, como são singulares as mais diversas culturas entre si. Porém, há tantos elementos sui generi que sempre que volto a convivência com os yanomami me espanto co

POROMONGUETÁ: A LÍNGUA DOS TREMEMBÉ.

POROMONGUETÁ: A LÍNGUA DOS TREMEMBÉ. olha ai a gente de novo! Prontos para mais uma leitura? Até agora postei sobre vários assuntos, mas ainda não abordei aspecto da cultura do meu próprio povo, do Povo Tremembé. Entre os vários elementos que poderia abordar, de forma mais peculiar, da parte cultural e estrutura social, eu irei me ater ao que toca a dimensão lingüística. Gostaria de partilhar junto com esta postagem um sentimento particular. Acredito que eu seja o primeiro a falar do Poromonguetá. Embora eu seja antropólogo, tive uma boa formação na área da lingüística devido a convivência e as partilhas com meu orientador do mestrado Frantomé B. Pacheco que é um excelente lingüístico. Por possuir, hoje, um conhecimento lingüístico suficiente para organizar nossa língua e apresentá-la de forma mais geral. Até então, ainda esses dados permaneciam na obscuridade, pois, de alguma forma, eu tinha um pouco de receio de comentar sobre eles. Ora, nós indígenas do nordeste, já somos, dev